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Boletim 03

Boletim nº 03

Julho 2015
HISTEDUP_boletim03

EDITORIAL

A significância de um espaço (científico)

“De 14 a 16 de outubro de 1987, o Serviço de Educação da Fundação Calouste Gulbenkian promoveu o 1.º Encontro de História da Educação em Portugal, em colaboração com o Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa”. Assim era apresentado o livro que sintetizou as intervenções de cerca de 25 investigadores que trataram três temas principais: “A História da Educação em Portugal: balanço da investigação realizada nas últimas décadas. Comparação com a atividade desenvolvida em outros países”; “Fontes para a História da Educação Portuguesa: Recolha e Tratamento”; “A História da Educação numa perspetiva interdisciplinar”. Para além da saudade que nos assaltou ao identificarmos participações de amigos já desaparecidos, o presentismo desta viagem ao passado levou-nos até constatações de desejos entretanto inscritos na história do nosso percurso. Joaquim Ferreira Gomes, por exemplo, colocava nessa altura a pertinência de criar uma Sociedade Portuguesa de História da Educação. Outros mal podiam adivinhar as realidades que foram sendo moldadas em sentidos que era difícil nessa altura equacionar – seja a dimensão do espaço conquistado para os nossos investimentos científicos, seja a internacionalização aí apenas aflorada como desejo, seja a exploração de fronteiras com outras áreas disciplinares e científicas. Mas de tudo fica clara a mensagem de inscrição de um objeto, nessa altura já bem delimitado e historicamente assumido, e de um conjunto de pioneiros que procuravam desbravar caminhos, por mais diversificados que fossem, por mais “paroquiais” que se assumissem na sua dimensão espacial, por mais sincréticos que se evidenciassem (por vezes simples “subsídios para a história da educação”) ou por mais visionários, utópicos ou idealistas que parecessem.
O 2.º Encontro realizado em Braga a 8 e 9 de novembro de 1996, sob o lema “Fazer e Ensinar História da Educação” mostrava já um quadro epistemológico e conceptual mais elaborado e incorporava colaborações de “fronteiras” disciplinares ou temáticas que evidenciavam a capacidade interrogativa dos investigadores, a abrangência conceptual das suas incursões na História da Educação, a inclusão da análise da “construção retórica da educação”, mas também a preocupação com a preservação evidenciada em mais do que uma intervenção, indo da cultura material às fontes necessárias para sustentar um número ascendente de interessados. Relevantes nessa altura as preocupações de natureza monográfica, mas também a evidência da importância política de uma análise sustentada da História da Educação. Olhando com mais pormenor os vários temas apresentados, a intemporalidade de alguns é sintomática: o papel das Câmaras que nos trouxe até ao projeto do municipalismo, o significado das imagens que nos conduziu à criação de equipas de investigadores com visões científicas e analíticas complementares, a relevância do estudo das várias disciplinas tanto na sua inscrição curricular como nos seus conteúdos e recursos ou ainda a questão sempre presente da formação de professores. Era visível a maior diversidade dos objetos estudados e a preocupação em trazer para a agenda investigativa um “aparato” metodológico que desse consistência às conclusões finais ou intermédias.
O 3.º Encontro de História da Educação realizou-se no Porto, organizado pela Secção de História da Educação da SPCE, entre 31 de março e 2 de abril de 2005, tendo por base um conjunto de “conferências encomendadas” e visando proporcionar “o tempo e espaço adequados à reflexão e debate do balanço e perspetivas da investigação histórico-educativa realizada nos últimos anos em Portugal, assim como à análise prospetiva das pesquisas a promover”, cumpriu uma nova etapa neste percurso. Foi claro nalgumas intervenções a capacidade de, na síntese, se evidenciar a capacidade de reflexão interna do que íamos fazendo, mas também não escamoteando as tensões que se viviam nas zonas de fronteira com outras áreas ou interesses científicos. Uma síntese dos temas, discursos e paradigmas na História da Educação em Portugal colocava e caracterizava bem essa questão. Noutra linha ia já a preocupação com a escrita científica tomando como referência 44 teses de doutoramento que mostravam também a densidade do trabalho académico que se vinha fazendo em diferentes instituições, mas também a importância que algumas fontes em particular iam assumindo, com destaque para a “imprensa de educação e ensino”. De temas mais abrangentes como a “infância”, “as disciplinas”, “as instituições” ou mesmo “o currículo da História da Educação” enquanto espaço disciplinar da formação de professores, relevaria mais do que a forma que os títulos evidenciam, o conteúdo que foi possível nessa altura já trazer para o recheio dos artigos escritos e que mostravam o crescente interesse por esta área de investigação científica. A bibliografia que qualquer desses textos incorporam no seu final é um excelente mapeamento do escrito até aí.
Esta é uma boa História que temos andado a escrever, mobilizando o nosso tempo mas sobretudo cativando adeptos e incorporando “sangue novo” nesta vontade “de longa vida” que temos. Não descobrimos ainda o elixir, mas não desistimos da sua procura. Convocamos todos os interessados para mais uma etapa nesta preservação da memória do que temos sido, mas também da vontade de nos inscrevermos cada vez mais na pertinência da nossa existência.
O encontro fica marcado para Lisboa, 16 e 17 de julho no Instituto de Educação!

A Direção